quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Os tradutores de Cortázar para o Português brasileiro

Lista compilada ao longo do tempo. Acredito que esses sejam todos os tradutores que Cortázar teve. Mas se alguém souber de outros, por favor, contate o Morellianas pelo e-mail ali em cima.

Se quiser baixar a lista em formato .XLS, para poder guardar e classificar pelo nome dos livros ou pelo nome dos tradutores, é só baixar deste link.

Livro
Tradutor
62.Modelo para Armar
Glória Rodríguez
A Volta ao Dia em 80 Mundos
Paulina Wacht e Ari Roitman
Adeus, Robinson e Outras Peças Curtas
Mario Pontes
Alguém que Anda por Aí
Remy Gorga Filho
As Armas Secretas
Eric Nepomuceno
Bestiário
Remy Gorga Filho
Conversas com Cortázar
Luís Carlos Cabral
Diário de Andrés Fava
Mario Pontes
Discurso do Urso
Leo Cunha
Divertimento
Paulina Wacht e Ari Roitman
Final do Jogo
Remy Gorga Filho
Fora de Hora
Olga Savary
Histórias de Cronópios e de Famas
Glória Rodríguez
Nicarágua Tão Violentamente Doce
Emir Sader
O Exame Final
Fausto Wolff
O Fascínio das Palavras
Eric Nepomuceno
O Jogo da Amarelinha
Fernando de Casto Ferro
O Livro de Manuel
Olga Savary
O Perseguidor
Sebastião Uchoa Leite
Obra Crítica
Paulina Wacht e Ari Roitman
Octaedro
Glória Rodríguez
Orientação dos Gatos
Remy Gorga Filho
Os Autonautas da Cosmopista
Josely Vianna Baptista
Os Prêmios
Glória Rodríguez
Os Reis
Paulina Wacht e Ari Roitman
Prosa do Observatório
Davi Arrigucci Júnior
Todos os Fogos o Fogo
Glória Rodríguez
Último Round
Paulina Wacht e Ari Roitman
Um Tal Lucas
Remy Gorga Filho
Valise de Cronópio
Davi Arrigucci Júnior e João Alexandre Barbosa

sábado, 8 de setembro de 2012

Cortázar e Chaves, Chaves e Cortázar


Posso ser muito criticado por este post - especialmente porque, para quem quer criticar, nunca falta motivo, independente do que se faça. De um lado, podem dizer que misturo literatura, uma das mais altas artes humanas, com televisão, uma das invenções mais mais banalizadoras (ainda que não das mais banais) que já existiu. De outro, é possível que critique a mistura de algo tão singelo como esse humor que coleciona fãs em toda a América Latina com algo complexo e que exige uma boa dose de raciocínio para se entender - os livros.

Mas cheguei à conclusão de que esses dois gênios (embora ache que nenhum dos dois gosta do termo) se parecem muito. "No branco do olho", resmunga um leitor muito cínico. "Só em serem latinos - e isso ainda é obra do acaso e nem quer dizer muita coisa, porque os argentinos e os mexicanos não se parecem tanto assim", diz o outro mais verboso, querendo parece mais razoável. Mas é verdade, sim. Vejam algumas provas... (tive que colocar o link para os vídeos, em vez dos vídeos embedded, porque se fizesse isso não seria possível linkar para o momento exato do vídeo (parece que o Blogger ou o YouTube mudaram o jeito como os embedded funcionam aqui...)

Cortázar tem seus cronópios, famas e esperanças, Bolaños tem suas criaturas imaginárias, também - cujos nomes poderiam bem ter vindo do glíglico, tão peculiarmente sonoros são...

"Churruminos"
http://www.youtube.com/watch?v=pAQ3LRhnX-E#t=5m40s

"Chirilopos"
http://www.youtube.com/watch?v=pAQ3LRhnX-E#t=8m30s


Outro exemplo: em "A Volta ao Dia em 80 Mundos", há aquele maravilhoso texto, que deve deixar os amantes da sintaxe de cabelo em pé, "Por Escrito Galinha uma". Para relembrar:

"Com o que acontece é nós exaltante. Rapidamente do possuídas mundo estamos hurra. Era um inofensivo aparentemente foguete lançado Canaveral americanos Cabo pelos de."

E se você leu o post sobre Le Ragioni della Collera, deve se lembrar de "Se le lengua la traba" (se não leu, clique aí do lado e vá lá ler rapidinho... vale a pena!).

O que muito me lembra esses clássicos momentos de Chave:

"As paixões suspiravam de donzela"
http://www.youtube.com/watch?v=NcFjZLb_mvw#t=4m56s

"E eu, quando for grande, também quero aprender a violar tocão"
http://www.youtube.com/watch?v=NcFjZLb_mvw#t=6m14s

Agora veja o vídeo abaixo e me diga, com sinceridade, são as duas genialidades linguísticas não são muito parecidas (transcrevi os trechos para facilitar a busca por eles no vídeo).

"Deixa de lado o orgulho
Bondosa criada da casa
E me dá um copo de sede
Que estou morrendo de água"

"Tenho os tensos tão dedos
Que até as dores me pernam
Por isso os cantos passaram
Por isso os miados gatam"

"Quanto mais eu apareço, mais assombração me reza"

http://www.youtube.com/watch?v=rJ_NbwvuOGc#t=9m19s


E as referências culturais, então? Ninguém pode chamar Bolaños ou Cortázar de incultos. JC reescreveu o mito do minotauro (em "os Reis"). Bolaños recontou a história de Quixote, como se pode ver aqui:

http://www.youtube.com/watch?v=BCQYn0Abzqc


E tem também as referências à música popular... JC sempre citava um tango aqui e ali (sempre me lembro daquele trecho de "Diário de Andrés Fava":

"Um tanguinho animador:

'Seguí no te parés
Sabé disimular...'")

E Bolaños inseriu em vários episódios de Chapolin, Chaves e Chespirito alguma paródia ou citação à música popular mexicana, Vejam:

Taca la Petaca:
http://www.youtube.com/watch?v=Nq-6IaeDP48

El Rey (Aquele "Lloraaaar, lloaaaar!" fica na cabeça!)
http://www.youtube.com/watch?v=iQOO6RPBsZQ#t=1m45s

E a clássica, classississíssima, como diria o Chaves, de "El Muerto Vivo", popularizada por Peret:
http://www.youtube.com/watch?v=hPZ4AiBkmuU#t=6m5s


E aí? A comparação é boa, não?

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Biografia de Julio Cortázar em 2 minutos

Acabo de receber o link por e-mail deste vídeo de uma rede de TV argentina sobre o Julio. Excepcional!


Uma biografia curta para o mestre dos textos curtos.

domingo, 29 de julho de 2012

Cortázar e a tradução

                Já escreveram livros sobre muitas coisas da vida de Julio Cortázar. Jaime Correa escreveu 208 páginas sobre o Cortázar acadêmico (“Cortázar, Profesor Universitario”); Jorge R. Deschamps escreveu sobre a juventude de Julio na Grande Buenos Aires (“Julio Cortázar en Banfield”). Mas sempre me intrigou que ninguém tivesse escrito algo mais longo sobre a relação de Cortázar com a tradução – não só sobre as traduções que ele fez, mas também sobre como ele via o ofício de traduzir.
                Há tempos eu pretendia escrever um texto assim, mas esperava por uma chance de reler todos os livros do Julio para poder escrever de maneira mais organizada e completa. Mas já que minha amiga Janaína Baladão vai escrever um texto sobre o assunto – e confio que será mais linearmente organizado que o texto que eu escreveria – e precisa de referências, vou deixar aqui algumas notas, para ver se servem de alguma coisa.
                Como já é de se esperar, é bem possível que a maioria destas notas esteja incompleta ou até incorreta. Mas a Jana é escolada nisso de pesquisa e, espero, vai dar um jeito de transformar essa simpática bagunça num respeitável (mas talvez menos simpático) trabalho acadêmico. Muito do que eu achava que havia publicado no Morellianas ou guardado em notas manuscritas não está em lugar algum. Então não resta muito além da memória e do “achismo”. Vamos nessa.
                Ainda jovem e na Argentina, Cortázar já ganhava uns trocados com tradução - indiretamente. Quem nos conta essa é Alberto Cousté, no livro “El Lector de... Julio Cortázar” (páginas 40 e 41):

“(incluso las primeras traducciones que Julio consiguió que le fueran encargadas las hacía en realidad Herminia, pero debía firmarlas inevitablemente su hijo para poder cobrarlas a un precio razonable: como un trabajo y no meramente como «el pasatiempo de una señora en sus ratos de ocio»)”

                Ainda na Argentina, passou em uma prova de Língua e Direito e exerceu profissionalmente a tradução entre 1948 e 1951 (dados da Encyclopedia of Latin American literature, página 422). Também na Argentina, traduziu para a Editorial Sudamericana. (Cousté, página 49)
                A partir de 1952, quando já vivia na Europa, trabalhou como tradutor para a UNESCO. Tenho a impressão de que ele não era lá grande fã do trabalho e que também não ganhava lá muito bem com esse ofício (vide as cartas que foram publicadas há uns meses pela revista Piauí; JC chega a escrever que os tradutores permanentes eram “escravos o ano inteiro”).
                Acredito que a coisa era bem diferente com as traduções literárias, ainda que elas também dessem bastante trabalho. Claro, Julio era um escritor, tudo que o estivesse na área da literatura deveria lhe parecer muito mais simpático do que aquilo que vinha do campo da geopolítica – pelo menos nessa época, antes de ele descobrir Cuba e Nicarágua.
                Na sua edição de “Rayuela” para a editora espanhola Ediciones Cátedra, Andrés Amorós publicou uma lista das traduções literárias que Cortázar fez (publiquei a lista traduzida aqui no Morellianas, neste post). Dá para imaginar que Julio ficaria muito mais contente traduzindo Poe (1300 páginas, segundo a página 50 do livro do Cousté! Uau!) ou Yourcenar – escritores que citou e até homenageou em algumas de suas obras – do que atas, ou seja lá que outros tipos de documentos saem de encontros de órgãos como esse.
                Talvez se possa achar um material muito vasto sobre a relação de Cortázar com a tradução em seus livros da “Obra Crítica”, especialmente nos volumes 2 e 3, mas um livro que tem dois textos com muito a dizer sobre o assunto é o primeiro tomo de “A Volta do Dia em 80 Mundos”. O primeiro desses textos é “Noite nos Ministérios da Europa”, que tem, como personagem, um tradutor e, como ambiente, um lugar de debates e decisões políticos. Parece o próprio Cortázar tradutor como personagem do Cortázar autor. Um conto cheio de estranhamento, alheamento até, inserção numa ordem não disponível a todos. Por isso, o tradutor protagonista e o ambiente me lembraram bastante de “62. Modelo para Armar”
                O outro texto é “Não Há Pior Surdo que Aquele que”, em que JC desce o sarrafo na tradução. Cito trecho da página 153 de “A Volta ao Dia em 80 Mundos – Tomo I”:

“Pensei paralelamente na influência neutralizadora e desvitalizadora das traduções em nosso sentimento da língua. Entre 1930 e 1950 o leitor rio-platense leu quatro quintos da literatura mundial contemporânea em traduções, e conheço demasiado o ofício de intérprete para não saber que a língua se reduz ali a uma função antes de tudo informativa, e que ao perder sua originalidade se amortecem nela os estímulos eufônicos, rítmicos, cromáticos, escultóricos, estruturais, todo o eriçamento do estilo que aponta para a sensibilidade do leitor, ferindo-o e espicaçando-o através dos olhos, dos ouvidos, das cordas vocais e até do sabor, num jogo de ressonâncias e correspondências e adrenalina que entra no sangue para modificar o sistema de reflexos e de respostas e suscitar uma participação porosa nessa experiência vital que é um conto ou um romance.” [Grifos meus]

                E, mais adiante, outra porrada nos devotos de São Jerônimo:

                “(...) antes das influências negativas da escola e das traduções (...)”

                Por outro lado, no volume II de “A Volta ao Dia...”, há uma espécie de retratação, pelo menos parcial. Em “Tombeau de Mallarmé” (páginas 115 e 116) podemos ler:

“Dos traidores refugiados consuetudinariamente no ofício da tradução, muitos dos que traduzem poesia me parecem avatares desse Judas sofisticado que atraiçoa por inocência e por amor, que abraça sua vítima entre oliveiras e tochas, sob sinais de imortalidade e de passagem. Todos os recursos são bons quando no fundo da retorta alquímica brilha o ouro de que falava Píndaro na primeira Olímpica; por isso se sabe de Judas alquimistas que não vacilam em esconder um grão de ouro no chumbo, simulando a transmutação para o príncipe cobiçoso, enquanto continuam procurando-a solitários e, quem sabe, encontrando-a. Terreno equívoco e apaixonado onde se passa da versão à invenção”. [De novo, grifos meus]

                Bonito, não? (Julio culto como sempre, citando indiretamente o epíteto “traduttore, traditore”.) Era quase de ficar contente, não fosse em “A Urna Grega na Poesia de John Keats” Cortázar escrever “(...)mediação degradante das traduções” (Obra Crítica, volume 2, página 34). Vamos dar um desconto: aí Julio era muito jovem (ah, essa mania de atribuir todas as injustiças que alguém comete à juventude...). Já em seu famoso “Alguns Aspectos do Conto”, Julio não agride as traduções: escreve, simplesmente, “pouco a pouco, em textos originais ou mediante traduções (...)”, sem qualificá-las com algum adjetivo pouco elogioso.
                Mas essas opiniões de Julio podem ser tudo, menos carentes de argumentação. Isso porque em outro texto famoso, “Do Conto Breve e Seus Arredores” (ibidem, 349), JC nos explica um pouco desse seu ranço, como diria meu avô português, com a tradução:

“Minha experiência me diz que, de algum modo, um conto breve como os que procurei caracterizar não tem uma estrutura de prosa. Cada vez que me tocou revisar a tradução de uma de minhas narrativas (ou tentar a de outros autores, como alguma vez com Poe) senti até que ponto a eficácia e o sentido do conto dependiam desses valores que dão um caráter específico ao poema e também ao jazz: a tensão, o ritmo, a pulsação interna, o imprevisto dentro de parâmetros pré-vistos, essa liberdade fatal que não admite alteração sem uma perda irreparável.”

                E, por falar em revisar traduções... Em algum lugar de “Correspondencia”, comenta-se que Julio, ao receber a tradução de “Rayuela” para o inglês, analisava as escolhas de Gregory Rabassa, o tradutor. Já nas páginas 80 e 81 de “El Lector de... Julio Cortázar”, Alberto Cousté nos conta:

“(…) una rápida selección de las fervorosas lecturas que hizo para la misma época, de autores como Felisberto Hernández, Juan Filloy, Hermann Broch (¡advierte hasta las deficiencias de traducción de La muerte de Virgilio, sin disponer del original y pese a su precario conocimiento del alemán!) (…)”.

Entre uma mordida e um assopro nos tradutores, Julio sempre se deu bem com eles: Gianni Toti (que escolheu o título do livro que traduziu), Silvia Monrós-Stojaković (que trocou cartas às vezes divertidas, às vezes densas com ele e Carol), Paul Blackburn (que ia até visitá-lo em Saignon, valendo até uma citação dentro deste já longo parêntese: “(...) emergem Paul Blackburn e Joan Miller que se dedicam de imediato a acampar ao lado de minha casa e me beijocar estrondosamente”; “Último Round”, tomo I, página 18), – e provavelmente outros -, receberam seu carinho e desfrutaram sua amizade, o que prova que, pelo menos, não era daqueles autores que consideram os tradutores uma subespécie... Tem, inclusive, uma frase que circula por aí como sendo dele (mas não lembro se é) que é um conselho aos autores que necessitam “ventilar” o estilo: traduzir os grandes autores. Isso deve ter inspirado alguns a traduzir o próprio Cortázar.


REFERÊNCIAS

ARRIGUCCI JR., Davi. Revista Piauí: Misteriosa Entrega e Mudança de Si Mesmo. Disponível em: <http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-58/cartas-julio-cortazar/misteriosa-entrega-e-mudanca-de-si-mesmo> Acesso em: 30 jun. 2012.
CORTÁZAR, Julio. Último Round. Tomo I. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. Tradução de Paulina Wacht e Ari Roitman.
CORTÁZAR, Julio. Volta ao Dia em 80 Mundos, A. Tomos I e II. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. Tradução de Paulina Wacht e Ari Roitman.
CORTÁZAR, Julio. Obra crítica. Volume 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. Tradução de Paulina Wacht e Ari Roitman.
CORTÁZAR, Julio; DUNLOP, Carol; MONRÓS-STOJAKOVIĆ, Silvia. Correspondencia. Barcelona: Alpha Decay, 2009.
COUSTÉ, Alberto. El Lector de... Julio Cortázar. Barcelona: Oceano, 2001.
RIBEIRO, Gustavo Melo. Blog Morellianas: Julio Cortázar Tradutor. Disponível em:
<http://blogmorellianas.blogspot.com.br/2010/10/julio-cortazar-tradutor.html> Acesso em: 30 jun. 2012.
SMITH, Verity (ed.). Encyclopedia of Latin American literature. Londres/Chicago: Fitzroy Dearborn Publishers, 1997.

sábado, 14 de julho de 2012

Perseguidor de luxo

Se "O Perseguidor" é ou não é "o melhor conto" do Cortázar, é questão em aberto. (Até porque, além da questão do "melhor", dá para discutir se é mesmo um conto, devido ao tamanho... mas não vem ao caso.) Mas que sem dúvida foi seu texto "não-tão-longo" que causou mais impacto, discussão e homenagens, ah, isso é difícil de negar.

Agora a editora Cosac Naify, conhecida por seus livros muito bem feitos (e que, pelo menos para os meus padrões, custam muito dinheiro), lança o conto (novela, ou o que preferirem) em uma edição especial, toda dedicada ao texto.

Capa de "O Perseguidor"


Originalmente publicada pela editora Libros del Zorro Rojo em 2009, essa edição traz 22 ilustrações do desenhista argentino José Muñoz. Na edição da Cosac Naify, o livro tem 96 páginas e promete ser sensorialmente muito agradável: 16,3 cm X 24 cm e capa dura. A tradução é do também poeta e ensaísta pernambucano Sebastião Uchoa Leite, falecido em 2003. Além de Cortázar, Uchoa Leite traduziu Lewis Carroll, Octavio Paz e Stendhal.

No site da editora, não há informação sobre prazo além do tempo de entrega. Já o site da Martins Fontes Paulista diz que o produto está em pré-venda e será lançado somente em 27 de julho.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

A Plazoleta Julio Cortázar pelo olhar de seus frequentadores

Esste link me chegou hoje, por e-mail, e mostra diversos ângulos da praça argentina que leva o nome do Julio.

De folhas de árvore a bicicletas (nada de plaquinhas com "vietato introdurre biciclette", pelo jeito...). Vale uma clicada!

http://web.stagram.com/location/279900

terça-feira, 3 de julho de 2012

Negro el 10

Capa de Obras Completas, volume IV: Poesía y poética


                O problema aqui já começa com escrever o título do livro. “Negro el 10” ou “Negro el Diez”? O número 1 da Revista de la Universidad de México, por exemplo, diz, no sumário, “Negro el Diez”. Mas o texto em si está intitulado como “Negro el 10”. De maneira que não sei bem o que fazer… Acho que vou adotar “Negro el Diez” pelo simples fato de contradizer a edição dessas incompletas “Obras Completas”, que não farão valer seu nome até sabe-se lá quando…
                Tanto essa edição digital, como a edição dentro das Obras Completas, não trazem as ilustrações que deram origem ao texto cortazariano. O que eu acho uma pena, porque Cortázar sempre foi um cara multimídia, mesmo dentro de sua própria mídia específica, a escrita. (Aliás, se a Galaxia Gutenberg deixou as imagens em “Un Elogio del 3” pro achar que elas dialogavam com o texto, porque tirar as de “Negro el Diez”?)
                Poucas são as considerações que posso fazer sobre o livro, por causa da já mencionada ausência do material visual e porque é bem curto: dez conjuntos de versos, um para cada ilustração. A o primeiro desses conjuntos já tem algo que vemos muito nos textos do Julio: jogos de palavras: “(…) por no ser. Por ser no”.
                O texto apresenta os traços negativos do negro, da escuridão: a tormenta, o ódio, o ciúme. E contrapõe com uma imagem positiva: pai profundo, retorno ao começo, palavra do silêncio. E, claro, seria de se estranhar se Cortázar não fizesse a relação Negro → Noite.
                No fim, exalta a escuridão, com a seguinte bonita imagem:
    “trampolín desde donde saltan los colores, su callado sostén.
     Todo es más contra el negro; todo es menos cuando falta.”

     E encerra simples e total:
    “Tu sombra espera tras de toda luz.”

sábado, 30 de junho de 2012

Cortázar no 7º Festival de Inverno



Acabo de ver, na página da Coordenação do Livro e Literatura de Porto Alegre, que a programação para o 7º Festival de Inverno inclui uma palestra sobre Cortázar com o escritor argentino Martín Kohan.

O evento acontece no dia 26/07, uma quinta-feira, das 19:30 até as 21:00, na Sala Álvaro Moreyra (que fica na Av. Érico Veríssimo, 307, no bairro Menino Deus). O local tem capacidade para 110 pessoas e a participação custa R$ 5,00.

Veja a notícia completa nesta página da CLL.

sábado, 21 de abril de 2012

A Arte de Brenda Taborda

Eu nem sequer sabia, mas o jornal La Nación, durante algumas semanas, podia ser adquirido em conjunto com edições dos livros da Biblioteca Cortázar da editora Alfaguara.

As capas  são interessantíssimas, como essa:

Para ver mais capas, clique no link do Behance da artista.


segunda-feira, 9 de abril de 2012

Cortázar Lee a Cortázar


01 - Palabras de Introducción
02 - Continuidad de los Parques
03 - Acerca de Su Mala Pronunciación
04 - Me Caigo Y Me Levanto
05 - Filantropía
06 - Correos y Telecomunicaciones
07 - Palabras de Introducción
08 - Conducta en los Velorios
09 - Palabras
10 - Capítulo 68 de rayuela.
11 - Palabras
12 - Capítulo 32 de Rayuela (Carta de la Maga al Bebé Rocamadour)

quinta-feira, 15 de março de 2012

Le Ragioni della Collera

Estojo de Obras Completas, volume IV: Poesía y poética

“Julio Cortázar, contista argentino do gênero literário do Realismo Fantástico”. Quantas vezes já lemos isso por aí? Não que seja mentira, mas está longe de ser a verdade. Para começar pelo fim, o rótulo literário é muito restritivo!  Realismo fantástico, é? Com “Rayuela” já botamos abaixo tanto isso do Realismo Fantástico como isso de contista – seu livro mais famoso e laureado é um romance e não tem muita coisa típica do Realismo Fantástico . E, apesar de se considerar argentino, Julio, que nasceu na Bélgica e depois recebeu a cidadania francesa, era na verdade um cidadão do mundo. Sua casa era em qualquer lugar em que pudesse refletir sobre a existência humana.
Mas, para mim, o principal erro dessa afirmação parece mesmo ser isso de “contista”. Teatro, romance, textos políticos, poesia. Poesia! Me digam aí se Julio não é, acima de tudo, poético. Mesmo a sua prosa tem muito de poesia: a sonoridade, os parágrafos quebrados para dar o ritmo… Não se escandalizem, mas estou cada vez mais propenso a ver Julio, acima de tudo, como um poeta.
Acabo de reler, para fazer este texto, “Le Ragioni della Collera”, (na verdade, sua edição “enxuta”, sem os textos que já aparecem em “Salvo el Crepúsculo”, dentro da coleção Obras Completas), e achei um de seus melhores livros de poemas. Talvez o melhor. Não sei o quanto dessa predileção por “Le Ragioni della Collera”, em detrimento de outros “poemários”, não é responsabilidade do leitor mais experiente que sou agora. Mas, de qualquer maneira, é um ótimo livro, que desautoriza Julio, que nunca acreditou muito na qualidade dos seus versos.
O livro abre com uma carta aberta de Cortázar a Gianni Toti, tradutor dos poemas para o italiano (que, inclusive, escolheu o título do livro), em que JC Cita sua produção de poemas, mas diz que “nunca pensé en publicar” (exceto “pecado de juventude en forma de sonetos”; ou seja, o livro “Presencia”). O método de composição do livro foi meio cronopial: Julio deu a Gianni alguns poemas, para que escolhesse traduzir alguns, mas Gianni traduziu todos, surpreendendo Cortázar. Alguns entraram, outros saíram, mas foram basicamente os poemas que JC deu a GT que estão no livro.
Um dos poemas mais sensacionais aparece logo nas primeiras páginas. Chama-se “Se le lengua la traba”. Vale a pena reproduzir inteiro, porque é sensacional. Uma obra-prima desse admirador de palíndromos e jogos de palavras:

Se le lengua la traba

Cuando oigo decir de una lectura que
tiene el hábito de la persona, me siento
pensado a inclinar bien de ella.

AVELLÁS NICOLANEDA
Mueven las ganas y blancan
en dos jugadas. ¡La fresca que repausa!
Salgamos todos a cazar
los rinopótamos y los hipocerontes. Pero, ay,
tanto va el rompe a la fuente
que al fin se cântaro…
¡ ¡La trata quiere saber de lo que se puebla! ¡ (Cabildo
del grito abierto.) Sí, en los niños
los únicos argentinos son los privilegiados. Pues esta tierra
no estuvo nunca atada a la bandera
de ningún vencedor de carros. Y Noble
nos puso como a un dios sobre un tábano despierto
para picarlo y tenerlo caballo.

(Usted empieza cuando el espectáculo llega,
de manera que mejor
que no te hermás, metano.)

Alguém aí lembrou do capítulo 18 de “Rayuela” e seu “Aldley Huxdous”? “Avellás Nicolaneda” ficou ótimo!
(Acabo de descobrir, no artigo “Habla coloquial y lengua literaria en las letras argentinas”, de Rodolfo Borello, que o livro chegou a ser publicado em espanhol, com o título de “Razones de la cólera”, entre 1950 e 1951.)
Os dois (curtos) poemas seguintes, me parece, focam na estranheza. “Tan inútil todo”, na estranheza de se ver distante dos outros: enquanto os filhos estão felizes, o pai olha para as colheres ou um torrão de açúcar. Em “Zoo” a estranheza é de si mesmo: os órgãos são animais, que andam pelo corpo, e têm por “bestia máxima” o coração.
Temas históricos e religiosos aparecem aos montes. “Juana ante su señor” (poema forte, duro, com tom de desalento), “Los iconoclastas” (a destruição das representações negativas), “La empusa” (criatura da mitologia grega) , “Voz de María” (que apresenta a voz da mãe de Jesus sobre a crucificação) e “Último círculo”, poema intenso, complexo, com referências clássicas, que nos dá o belo trecho:

                        Esto que llamo mi alma
tienta el espacio como una copa de árbol

Alguns outros versos soltos, porque já estou cansado de escrever tão linearmente:

Espejo feroz, ¿es necesario que me tires a la cara
la copia de este mundo?
(“Los espejos la tiranía”)

En realidad lo importante es lo que no hicimos
(“Nos hemos visto antes en alguna parte”)

cómo asir esa sombra de tu vida que en mi memoria pasa
(“Cura de espantos”)

Os mortos são tema de dois poemas: o primeiro é “Réquiem”, para Bosie, amante de Oscar Wilde; doce homenagem, bonito poema (como curiosidade, o poema cita os fios da Virgem. “Pero los hilos de la Virgen se llaman también babas del diablo”, diz em certo conto…). O outro, que fecha o livro, é “La abuela”, escrito para sua avó:

Te veo y soy pequeño y soy yo mismo, y nada impide que el pequeño y el hombre te den el mismo beso y se refugien en tu abrazo.
(...)
Y el primero que muera sabrá que nada muere
y que la perfección reinó en su día.

O universo da morte também aparece em “La lección”, se mesclando com o mundo do sono e dos sonhos.
Outros poemas dignos de nota são “Viaje y vivo retorno” (o tema da transição ôntica: “no beber te, beberse te”), “Discurso del método” (bonito poema, em que se quer que a memória não falseie os fatos), “Crónica” (antes a morte do que uma existência em que é preciso aval de um doutor para ser beijado e em que todos os doces são cobertos de sal), “El huésped” (curiosa construção; estrofes com parênteses e sem parênteses alternadas), “Rue Montmartre” (poderosa descrição da chuva como algo podre – ainda assim, é simpática) e “Nocturno”, que tem alguma semelhança com “62. Modelo para Armar”:

es despertarme a plena noche, barrido
por un viento que nace de tu pelo
dormido junto a mí, tan lejos

Por fim (prometo que já estou acabando, não se desesperem), quero comentar “Entre esto y aquello”, um dos mais intensos poemas do livro. Trata-se de um poema sobre o espaço
el espacio
cuchillo de cristal

 sobre o vazio
                               que me vacía los bolsillos me roba las ciudades

sobre o qual Julio decreta:
                         espacio
 cáncer de lo uno                           

Se você que me lê quer começar a descobrir os poemas de Julio Cortázar, talvez deva começar por este “Le Ragioni della Collera”, por sua diversidade e por sua qualidade indiscutível.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Reler Cortázar

                Originalmente, escreveria sobre a experiência de reler “62. Modelo para Armar”. Mas o tempo foi passando, foram aparecendo coisas que me tomaram tempo, e, quando dei por mim, já tinha passado demasiado tempo para fazer um post sobre a experiência, que já não estava mais “quente” na minha memória.
                Isso estava me frustrando, e talvez até tivesse escrito o texto mesmo assim, redigindo de qualquer jeito, só para cumprir um compromisso que me impus. Ainda bem que apareceu por aqui o comentário da Cláudia (aqui, ó), que me fez reler “Em Nome de Bobby”. Isso me fez pensar num texto mais abrangente, sobre a reler os textos de Cortázar em geral.
                Li muita coisa do Julio, mas reli pouca coisa. Um pouco disso é porque são tantos livros que ele escreveu que se leva muito tempo até ler todos (mesmo só os “todos” que se pode achar no Brasil) para então começar a reler. Um pouco, também, porque ler Cortázar – pelo menos para quem se interessa a fundo pelo seu modo ver o mundo e de retratá-lo – é muito mais enriquecedor se vamos atrás de leituras que o influenciaram, impressionaram: por causa de seus textos, li “A História de O”, “História do Olho”, “O Pai Goriot” (“un drama sin Edipos, sin Rastignacs”, diz o capítulo 62 de “O Jogo da Amarelinha), estou lendo a versão traduzida de “The Ginger Man”, do Donleavy (“Sexta-feira Triangular”, numa tradução de título bem curiosa), e ainda tenho na minha lista, entre outros, “Paradiso”, do Lezama Lima.
E outro pouco, que não é tão pouco assim, é porque nada se compara à primeira leitura de uma obra do Julio. A primeira leitura é toda maravilhar-se e estranhar aquele universo aparentemente igual ao nosso, mas em que as leis são um pouco torcidas – e essa torção acontece sem aviso. E o que torna esse universo fantástico é justamente o estranhamento que nos preenche, mas que não afeta os personagens. Um tigre vivendo é uma casa é incômodo, mas não incrível para a família que lá habita.
As releituras são mais cerebrais, e aí a gente deixa de sentir tanto o texto, e começa a pensá-lo, a analisá-lo. Não dá pra sentir o mesmo estranhamento. Já sabemos o que acontece, e então começamos a traçar relações, a cruzar dados, a buscar influências da vida real – nunca mais vou ter aquele mal-estar lendo “Casa Tomada” depois de tanto ter lido que é uma referência à ditadura argentina.
Então, para aproveitar uma releitura de Cortázar é preciso fazer um esforço para não analisar o texto, para se livrar desse cacoete intelectual. Cortázar insistiu que seus textos, não só os em verso, eram poéticos, tinham certo ritmo. Também disse, numa entrevista (não lembro se ao Bermejo ou ao Prego), que ele achava que Horacio não se atirava ao final do romance. E quantos releitores devem haver por aí que buscam a certeza de alguma coisa nos textos que leem. Que voltam á página um para investigar, para desvendar. Apesar de serem bem compostos, os textos cortazarianos, pelo menos para mim, valem mais pelo que têm de sentimental, de instintivo, de animal. O que me fez começar esse blog é que seus textos são pulsantes, vivos.
Claro que releituras também podem ser boas, desde que a gente tenha em mente que o importante é apreciar o texto, não tanto entendê-lo. Por exemplo, “Em Nome de Bobby” agora é um conto mais marcante para mim, porque fala da infância, tema que o Cortázar trata com importância (“Final de Jogo” é um dos meus contos favoritos; acho que poucos contos retratam a infância de maneira tão interna).
Outro exemplo, esse em maior escala: “62. Modelo para Armar”. Não sou eu o único a ter saído tonto da leitura desse romance cortazariano. Da primeira leitura, tinha ficado apenas com impressões e algumas ideias vagas. Clima de escuridão, romances cruzados (um “quadrado” amoroso?), um trocadilho em francês, um ambiente à margem ou além do resto (a Cidade), sexo sáfico…
O curioso é que, mesmo relendo, não fica mais fácil explicar, comentar, resenhar “62”. Continua sendo o livro mais complexo, mais pesado, mais sombrio de Julio Cortázar. Mas é uma releitura que se presta aos meus desejos de leitor-cronópio: uma releitura menos cérebro e mais clima, sentimento, intuição.
Que possamos sempre (re)ler assim o que o Julio escreveu: ordenando o caos apenas o suficiente para nos admirarmos de como ele não precisa ser compreendido para nos encantar.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

As opiniões que importam

(Chris: I think this post might interest you, so I wrote a short summary in English after the main text)

Há uns dias, circula na internet um texto - escrito por um suposto professor de nível superior - afirmando que Cortázar é um escritor menor, que é visto na Argentina como um autor para adolescentes e que não se pode colocá-lo no mesmo grupo que outros grandes escritores argentinos.

O texto apresenta vários problemas que tiram sua credibilidade. Pensei em fazer um longo texto respondendo àquele outro. Mas aí assisti à entrevista com o escritor Carlos Fuentes no programa "Dossiê Globo News" e me dei conta de que não era preciso. Se você é daqueles - eu sou - que valorizam mais a opinião de escritores do que a de acadêmicos, eis aí Fuentes. E se você, ao contrário, prefere concordar com os acadêmicos, então também aí está Fuentes, que já deu aula em Cambridge, Harvard e Princeton.

Veja as palavras de Carlos Fuentes sobre Julio Cortázar:


Se para Carlos Fuentes, ganhador do Prêmio Cervantes, Cortázar era um gênio e "Rayuela" é um grande livro, não há de ser um textinho mal escrito e tendencioso que vai convencer você do contrário, não é?

Ainda tem mais gente (muito relevante) que concorda e vê Cortázar como importante e grande escritor. Pelo lado dos acadêmicos, Haroldo de Campos (que escreveu o prólogo a "Rayuela" na edição da coleção Archivos da UNESCO) e Davi Arrigucci Jr., autor de "O Escorpião Encalacrado"; pelo lado dos escritores, Calvino, García Márquez, Neruda, Octavio Paz (uma trinca de ganhador do Nobel de Literatura!)... e por aí vamos.

E então? Quais opiniões importam mais para você?

(Summary for Chris: a few days ago I read a text allegedly written by a Professor at a University in the USA stating that Cortázar was a minor writer in Argentine, and comparing him to other Argentinian writers was impossible, because most of his work is childish. Last Saturday I watched and interview with Mexican Panamenian-born writer Carlos Fuentes. He tells us his opinion on Cortázar - which is, as you can watch, very nice. I decided not to write a new text criticizing that very poorly written text - e.g., he misspells books' titles, like "We love Brenda so Much", instead of "Glenda"-; instead, I posted here what Fuentes said.I also named some other relevant figures who think Cortázar's woprk is great. I think you can enjoy watching the video, since Carlos answered in English. The whole video is pretty cool. Check out Fuentes telling about his trip with Cortázar and García Márquez to Prague, where they met Milan Kundera)

Gabo: Cortázar? Um escritor menor? Ah, qualé! Sem essa!
Carlos: Meus ouvidos não são penico, Gabo. Nem vou ouvir essa bobagem!